"A corrida por um desenvolvimento mais inteligente já começou", diz Relatório da Unesco
- gorettigiovana
- 7 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Nos últimos cinco anos, como está o desenvolvimento científico dos países? Essa questão motivou as discussões da 7ª edição do Relatório de Ciências “Corrida contra o tempo para um desenvolvimento mais inteligente”, da Unesco, lançada recentemente. A “corrida contra o tempo” é um alerta aos países, cujos investimentos em ciência ainda são precários e insatisfatórios. Sem investimento à pesquisa e ciência, os países perdem em múltiplas competitividades: intelectual, econômica, social e tecnológica. O documento prioriza algumas discussões que envolvem o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, considerando as prioridades de desenvolvimento no mundo. A sociedade mundial passa por uma transformação social acelerada que assim como traz oportunidades sociais e econômicas, também pode aumentar as desigualdades sociais. Isso pode ocorrer se não forem implementadas garantias que assegurem uma realidade mais equânime. Neste sentido, a pesquisa científica assume um papel importante no diagnóstico de realidades e projeções de futuros possíveis.
Por economias digitais e “verdes”
Uma das discussões se refere à transição para uma sociedade digital centrada em economias “verdes”. Isso se deve à competitividade econômica que no futuro precisará ficar ainda mais rápida, demandando investimentos em tecnologias de ponta. Para apressar essa transição, os governos têm criado ferramentas políticas que facilitem a transferência de conhecimentos para a indústria 4.0. Destaca-se que boa parte da origem desses conhecimentos advém das universidades, o que evidencia o papel dessas instituições. No entanto, quando não há valorização na ciência e nos benefícios que traz para a sociedade, os países ficam à mercê de tecnologias e conhecimentos científicos advindos do exterior. O Relatório apontou que 8 em cada 10 países destinam menos de 1% do seu PIB à pesquisa, o que os fragiliza cientificamente.

Relatório UNESCO (2021, p. 10).
Investimento em pesquisa e ciência
O documento da Unesco alerta que são necessários e urgentes mais investimentos em pesquisa e inovação. Muitos países já ampliaram seus investimentos, alinhado-se aos ODS, porém, há outros países que ainda dependem de tecnologias estrangeiras para avançar em seu desenvolvimento devido à ausência ou pouca importância dada à pesquisa e à ciência. Infelizmente o Brasil é um desses países em que a pesquisa não é valorizada. É preciso mudar esse cenário e tornar o país mais competitivo internacionalmente.

Relatório UNESCO (2021, p. 7).
A Unesco foi enfática também ao dizer que é dever dos governos garantir que haja políticas e recursos que acompanhem do que se chamou de “desenvolvimento mais inteligente” em nível mundial. Esse desenvolvimento precisa que os distintos setores da sociedade estejam em sintonia com os objetivos estratégicos dispostos na Agenda 2030.

Relatório UNESCO (2021, p. 10).
No documento da Unesco consta que alguns países melhoraram o status dos pesquisadores, aumentando seus salários e ampliando outros recursos, como, por exemplo, à tecnologia à disposição. Quando se volta o olhar para o Brasil, percebe-se o contrário: pouco investimento e o pouco que há ainda não contempla os raros editais de pesquisa científica. Destaca-se um dos últimos editais do CNPq em que pesquisadores tiveram seus trabalhos aprovados por mérito, mas não puderam usufruir dos recursos porque não havia verba suficiente, já que no meio do processo houve cortes do governo. Isso sem falar nas bolsas de estudo que estão cada vez mais escassas e não são atualizadas há um bom tempo.

Relatório UNESCO (2021, p. 58).
Contrastes da Covid-19
A pandemia Covid-19 devastou a economia mundial, ao mesmo tempo, acelerou 10 anos em menos de um ano, impulsionando sistemas de produção de conhecimento. Em tempo recorde, cientistas e pesquisadores do mundo inteiro trabalharam incessantemente na busca por vacinas contra o coronavírus. Entretanto, a pesquisa e a ciência também estiveram envolvidas em outras frentes, além da saúde, tais como nas discussões que envolvem a sociedade contemporânea. Todas as áreas do conhecimento investigaram a pandemia sob distintos aspectos, gerando amplo conhecimento sobre a doença e a própria sociedade.
O cenário pandêmico ampliou a colaboração científica internacional, propondo parcerias para enfrentar desafios globais, como mudança climática e perda da biodiversidade. O Relatório afirma ainda que há forte investimento em tecnologias verdes, mas a ciência da sustentabilidade ainda não está popularizada. Enquanto, não se tornar popular, o valor dessas tecnologias ainda ficará restrita a uma pequena parcela da população. Além disso, essa ausência de popularização sobre a temática remete também à falta de publicações acadêmico-científicas que discutam a sustentabilidade ambiental na sociedade vigente.
Fonte: Schneegans, S.; Lewis, J.; T. Straza (Eds.). Relatório de Ciências da UNESCO: A corrida contra o tempo por um desenvolvimento mais inteligente – Resumo executivo. Paris: UNESCO Publishing, 2021.
Relatório completo (em inglês) disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377433
Capítulo do Brasil (português): https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377250_por/PDF/377250por.pdf.multi
Comentários